(Disclaimer: este texto contém altas doses de indignação e ironia. Mas estou bem: tranquilo, focado no trabalho e pacientemente tomando um bom cappuccino com avelãs. Dei uma pausa para indignar vocês também).
Ontem, com a ajuda de meus filhos, eu tive a oportunidade de testemunhar o mais alto grau da idi…insensatez (estou tentando usar palavras mais amenas) digital humana (por enquanto). Sinceramente, ou eu não entendi ou a situação está realmente incontrolável e meu conceito de “chegamos ao fundo do poço” é apenas um estágio da longa queda do intelecto da humanidade. Tudo em prol da busca pelo dinheiro fácil.
Sim, estou falando das Lives NPC (Non-playable Character) no TikTok. Fui apresentado a esse novo hype que tem submetido algumas pessoas a uma vergonha alheia indescritível. Acredito que vivemos tempos onde há muito mais bobos da corte do que cidadãos no reino das mídias sociais. Se você nunca viu, faça uma simples busca no Youtube ou no TikTok.
A degradação imagética e a necessidade de chamar a atenção para ter farelos de aprovação alheia (mas algum dinheiro também) já demonstra esse gigantesco buraco negro de vazio interior de quem se submete a essa insensatez (novamente o cuidado com as palavras) e de quem assiste a contribui para perpetuar essa fantástica jornada rumo ao desperdício de vida. Pensando bem, talvez não seja nem um desperdício, já que para tal é necessário possuir o que se desperdiça.
Essas marionetes do sadismo inconsciente (talvez consciente, vai saber) ou dos coadjuvantes tão insensatos (opa! de novo) quanto, provavelmente não tem a menor noção que sua tentativa de entreter é apenas pura demonstração de uma existência desproposital. Mas também a busca desesperada por dinheiro. O que acredito ser o caso da maioria para ser sincero. E também acredito que esse hype vai passar rápido. Como todos passam. E a pergunta que fica é: como será o próximo?
Eu tinha prometido não reclamar ou criticar os absurdos que chocam a mim todos os dias. Peço desculpas por hoje. Não resisti. Prometo que não vai mais acontecer essa semana.
Todavia, apesar de minha opinião ser essa, afirmo que a livre expressão é direito inalienável de cada um, sendo um completo idi…insensato ou um quase-velho rabugento.
Eu tava ali, no meio daquela festa bonita de casamento, onde todos estavam animados, dançando e comemorando mais uma união nesse mundo. A música não estava tão alta e isso me agradava muito pois não gosto de música muito alta em festas. Só se for Metal! E mesmo assim, tem um limite de decibéis. Sabe como é a idade, né?
O clima agradável e a música do biquini de bolinha amarelinho me transportou a alguns anos em minha adolescência, quando ainda morava com meus pais e minha avó.
Lembro bem dela chegando pelo corredor, com seus passinhos tímidos e cautelosos em direção à cozinha, sabendo que em instantes o neto que ela mais gostava (isso era segredo) iria levantar repentinamente e iria pegá-la pelos braços.
Antes mesmo de levantar ela já olhava desconfiada. Às vezes começava a dizer “não, não”, com um sorriso disfarçado no rosto só de eu olhar pra ela. Não tinha jeito.
Levantava correndo, tomava a velha nos braços e começava a dançar. Era valsa, tango, lambada…o que tocasse. Ela gritava que estava tonta e ria…ria e dançava. Eu desmanchava seu cabelinho branco de algodão-doce todo. E sua mãozinha tão enrugada e lentidão de movimentos tentava ajeitar sem sucesso.
Ouvia minha mãe gritar do quato: “Sua vó vai ficar tonta, para Laert, ela vai cair, não faça isso!”. Eu não dava a mínima. E minha vó adorava. Dançava alguns instantes, rodopiando pela sala, se batendo nos móveis. Girando, girando.
Eu cantava e ela gritava. Pedia socorro para a filha…rindo. Mas não adiantava. Ela adorava dançar.
Hoje eu lembrei de minha velhinha. Lembrei e quase chorei na festa, porque nunca mais eu dancei assim. Nunca mais rodopiei na sala. Mas sei que haverá um momento em que eu pedirei para uma certa menina parar. Eu, inclusive, espero que ela me tome nos braços e rodopie, até eu ficar tonto, com sorriso no rosto, pedindo para ela parar.
E, de todas as lembranças, o que eu sinto mais falta era de seu sorriso contido e sua vontade escondida de dançar comigo.
Não pense que você não escapou, minha véia!
Um dia ainda vou te pegar, onde quer que você esteja pra gente rodopiar…só que agora, nas nuvens. Um beijo muito saudoso.
(Sugestão de trilha para ler o artigo: Nenhuma. Apenas o silêncio)
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Despachei minha mala no aeroporto carregada de expectativas e a sensação refrescante dos inúmeros banhos de cultura e beleza que sempre encontrei quando viajava para a maior cidade da América Latina.
Era feriado e a primeira coisa que fiz com a família foi caminhar para almoçar na Paulista, já que o hotel era próximo.
Diante dos malabares, bancas de bugigangas e bandinhas legais desconhecidas, notei que estávamos dentro de uma daquelas lindas bolhas de sabão que encantam as crianças.
Nossa bolha era um escudo colorido e distorcido que flutuava sobre a realidade monocromática cinza da cidade. Almoçamos em lugares lindos, andamos em centros culturais, visitamos museus, compramos o luxo e o lixo, curtimos o festival de música por dois dias.
Dentro de nossa bolha de sabão, sobravam sorrisos.
Mas como a bolha de sabão é transparente e enquanto flutuava pela cidade com motoristas de aplicativos, a gente via a fétida realidade das calçadas do centro da cidade. O contraponto da leveza e do colorido.
São Paulo me deixou marcas dessa vez. Na minha retina.
Foi deprimente enxergar de dentro da bolha toda a indiferença, pobreza, solidão, tristeza e desrespeito que a opulência de uma cidade gigantesca gera em centenas, milhares de pessoas que habitam as ruas, que fazem do chão sujo e pisado o seu colchão.
A população do infortúnio cresce a cada ida minha para lá e o mal-cheiro social fica cada vez mais evidente.
O conforto da bolha me entrega experiências fantásticas e eu sou grato por isso.
Mas ela não tapa a visão da realidade do outro lado da fina e transparente parede de água e sabão. Dois simples elementos que faltam para todos os que vi pelo caminho e que não limpam nossa consciência a cada banho quente que tomamos.
Ah, quem dera se um pouco das belezas que a cidade oferece respingasse na vida dessas ainda pessoas!
A mala voltou mais cheia. E não foi de compras e roupas sujas.
“A cidade não para, a cidade só cresce. O de cima sobe e o de baixo desce”. (Chico Science)
(Sugestão de trilha para ler o artigo: I love it Loud – Kiss)
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A minha vida gira em torno da experiência do usuário.
Já há algum tempo (desde 2008) eu trabalho oficialmente como UX Designer, utilizando essa denominação para essa “nova” profissão.
Mas minha ficha sobre experiência do usuário caiu mesmo quando eu percebi que eu já fazia isso desde 1994, quando virei músico profissional. Logo depois, virei arquiteto. Em seguida, Webdesigner. Fui Designer de Produtos. Empresário da área de Mídias Interativas. Professor. Palestrante. Até que cheguei no UX Design. Desde lá, da música, eu já trabalhava para que o usuário tivesse a melhor experiência. Então, não foi uma mudança de propósito. Foram mudanças de profissões, papéis, responsabilidades.
De um tempo pra cá venho percebendo que tenho aplicado algumas abordagens do UX na minha vida pessoal. Hoje eu prego o mantra que “eu compro experiências” para a minha família.
Viagens, shows, finais de semana, restaurantes, passeios…tudo isso com a abordagem da “experiência” como fio condutor das decisões.
Neste final de semana do feriado de Tiradentes, vivi mais uma experiência. Desta vez com o meu filho Lucas, que aprendeu a gostar de rock desde pequeno.
Marquei com ele – com certa antecedência – para passar o feriadão comigo, em Itacimirim, na praia. Curtindo o sol, tomando banho de mar, conversando, fazendo churrasco, pizza e tudo mais o que fazemos quando estamos nos finais de semana por lá.
Até aí nada demais. O único problema é que era tudo mentira.
Preparei às escondidas uma viagem para um festival de metal em São Paulo – o Monsters of Rock – que nesta edição trouxe duas bandas com um significado especial para mim e para ele.
E a surpresa de saber que iria viajar para um festival de metal só foi revelada quando eu repentinamente virei o carro em direção ao aeroporto ao invés de pegar o caminho correto da praia. Até aquele momento ele não estava sabendo de nada. E só soube sobre a viagem depois que eu estacionei e contei pra ele, que ficou sem saber se acreditava ou não.
A felicidade em saber que iria para um show do Symphony X, banda que eu sou super fã e apresentei pra ele (que acabou virando fã também) foi o primeiro feedback do “usuário”. Coincidência ou não, ele havia comentado comigo dias antes da viagem que estava ouvindo a discografia da banda direto. Mal sabia que estava prestes a ir para o show de uma das bandas que ele mais curte.
Além do Symphony X, outras fantásticas bandas tocaram no festival (Doro, Candlemass, Helloween, Deep Purple, Scorpions). Foi sensacional! Todavia, uma delas tem um significado enorme na minha vida, que é o KISS. Banda que criou esse festival e que encerrou o dia (sim, o Festival começou às 11h30 e foi até às 23h30). Foi a banda que me apresentou o rock, o metal. Foi através de “I love it loud”, canção composta pelo baixista Gene Simons e o guitarrista Vinnie Vincent em 1982, para o álbum Creatures of the Night, um dos que eu mais gosto, que eu passei a curtir o estilo e começar a ser um “banger” desde a tenra adolescência. Aliás, infância. Eu tinha apenas 9 anos de idade.
Eu nunca tinha assistido a um show do KISS e essa era a oportunidade perfeita e única para fazê-lo. O KISS encerrou a sua turnê e carreira nos palcos após 50 anos de existência. Nasceu em 1973, tal como eu. Marcante, significativo e um encerramento de um ciclo para o começo de outro. Pelo menos para mim.
Eu não preciso dizer aqui o quanto Lucas ficou feliz. Com a surpresa, com a viagem, com os shows. Os momentos que dividimos nesse gesto simples de ir a um show mas com um impacto na relação pai e filho extremamente grande. Eu tenho certeza que isso ficará guardado em sua memória para sempre. E é exatamente aí, na forma como ele se sentiu com toda essa experiência que reside o eterno. É exatamente nesse registro de felicidade que ficaremos unidos e lembraremos com satisfação de todos os momentos que compartilhamos a essência e o significado da vida.
Eu tive a extrema honra e orgulho de proporcionar para meu filho (e, de quebra, para mim também) mais uma experiência de usuário (do metal) fantástica. Indescritível. Memorável. Inesquecível, “loud”!
O KISS para por aqui. Foi uma jornada linda e de muito sucesso.
A minha, espero, ainda está pela metade.
Eu sigo em frente. Sempre!
Te amo, filho!
(Sugestão de trilha para ler o artigo: I love it Loud – Kiss)
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A minha vida gira em torno da experiência do usuário.
Já há algum tempo (desde 2008) eu trabalho oficialmente como UX Designer, utilizando essa denominação para essa “nova” profissão.
Mas minha ficha sobre experiência do usuário caiu mesmo quando eu percebi que eu já fazia isso desde 1994, quando virei músico profissional. Logo depois, virei arquiteto. Em seguida, Webdesigner. Fui Designer de Produtos. Empresário da área de Mídias Interativas. Professor. Palestrante. Até que cheguei no UX Design. Desde lá, da música, eu já trabalhava para que o usuário tivesse a melhor experiência. Então, não foi uma mudança de propósito. Foram mudanças de profissões, papéis, responsabilidades.
De um tempo pra cá venho percebendo que tenho aplicado algumas abordagens do UX na minha vida pessoal. Hoje eu prego o mantra que “eu compro experiências” para a minha família.
Viagens, shows, finais de semana, restaurantes, passeios…tudo isso com a abordagem da “experiência” como fio condutor das decisões.
Neste final de semana do feriado de Tiradentes, vivi mais uma experiência. Desta vez com o meu filho Lucas, que aprendeu a gostar de rock desde pequeno.
Marquei com ele – com certa antecedência – para passar o feriadão comigo, em Itacimirim, na praia. Curtindo o sol, tomando banho de mar, conversando, fazendo churrasco, pizza e tudo mais o que fazemos quando estamos nos finais de semana por lá.
Até aí nada demais. O único problema é que era tudo mentira.
Preparei às escondidas uma viagem para um festival de metal em São Paulo – o Monsters of Rock – que nesta edição trouxe duas bandas com um significado especial para mim e para ele.
E a surpresa de saber que iria viajar para um festival de metal só foi revelada quando eu repentinamente virei o carro em direção ao aeroporto ao invés de pegar o caminho correto da praia. Até aquele momento ele não estava sabendo de nada. E só soube sobre a viagem depois que eu estacionei e contei pra ele, que ficou sem saber se acreditava ou não.
A felicidade em saber que iria para um show do Symphony X, banda que eu sou super fã e apresentei pra ele (que acabou virando fã também) foi o primeiro feedback do “usuário”. Coincidência ou não, ele havia comentado comigo dias antes da viagem que estava ouvindo a discografia da banda direto. Mal sabia que estava prestes a ir para o show de uma das bandas que ele mais curte.
Além do Symphony X, outras fantásticas bandas tocaram no festival (Doro, Candlemass, Helloween, Deep Purple, Scorpions). Foi sensacional! Todavia, uma delas tem um significado enorme na minha vida, que é o KISS. Banda que criou esse festival e que encerrou o dia (sim, o Festival começou às 11h30 e foi até às 23h30). Foi a banda que me apresentou o rock, o metal. Foi através de “I love it loud”, canção composta pelo baixista Gene Simons e o guitarrista Vinnie Vincent em 1982, para o álbum Creatures of the Night, um dos que eu mais gosto, que eu passei a curtir o estilo e começar a ser um “banger” desde a tenra adolescência. Aliás, infância. Eu tinha apenas 9 anos de idade.
Eu nunca tinha assistido a um show do KISS e essa era a oportunidade perfeita e única para fazê-lo. O KISS encerrou a sua turnê e carreira nos palcos após 50 anos de existência. Nasceu em 1973, tal como eu. Marcante, significativo e um encerramento de um ciclo para o começo de outro. Pelo menos para mim.
Eu não preciso dizer aqui o quanto Lucas ficou feliz. Com a surpresa, com a viagem, com os shows. Os momentos que dividimos nesse gesto simples de ir a um show mas com um impacto na relação pai e filho extremamente grande. Eu tenho certeza que isso ficará guardado em sua memória para sempre. E é exatamente aí, na forma como ele se sentiu com toda essa experiência que reside o eterno. É exatamente nesse registro de felicidade que ficaremos unidos e lembraremos com satisfação de todos os momentos que compartilhamos a essência e o significado da vida.
Eu tive a extrema honra e orgulho de proporcionar para meu filho (e, de quebra, para mim também) mais uma experiência de usuário (do metal) fantástica. Indescritível. Memorável. Inesquecível, “loud”!
O KISS para por aqui. Foi uma jornada linda e de muito sucesso.
A minha, espero, ainda está pela metade.
Eu sigo em frente. Sempre!
Te amo, filho!
(Sugestão de trilha para ler o artigo: I love it Loud – Kiss)
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A minha vida gira em torno da experiência do usuário.
Já há algum tempo (desde 2008) eu trabalho oficialmente como UX Designer, utilizando essa denominação para essa “nova” profissão.
Mas minha ficha sobre experiência do usuário caiu mesmo quando eu percebi que eu já fazia isso desde 1994, quando virei músico profissional. Logo depois, virei arquiteto. Em seguida, Webdesigner. Fui Designer de Produtos. Empresário da área de Mídias Interativas. Professor. Palestrante. Até que cheguei no UX Design. Desde lá, da música, eu já trabalhava para que o usuário tivesse a melhor experiência. Então, não foi uma mudança de propósito. Foram mudanças de profissões, papéis, responsabilidades.
De um tempo pra cá venho percebendo que tenho aplicado algumas abordagens do UX na minha vida pessoal. Hoje eu prego o mantra que “eu compro experiências” para a minha família.
Viagens, shows, finais de semana, restaurantes, passeios…tudo isso com a abordagem da “experiência” como fio condutor das decisões.
Neste final de semana do feriado de Tiradentes, vivi mais uma experiência. Desta vez com o meu filho Lucas, que aprendeu a gostar de rock desde pequeno.
Marquei com ele – com certa antecedência – para passar o feriadão comigo, em Itacimirim, na praia. Curtindo o sol, tomando banho de mar, conversando, fazendo churrasco, pizza e tudo mais o que fazemos quando estamos nos finais de semana por lá.
Até aí nada demais. O único problema é que era tudo mentira.
Preparei às escondidas uma viagem para um festival de metal em São Paulo – o Monsters of Rock – que nesta edição trouxe duas bandas com um significado especial para mim e para ele.
E a surpresa de saber que iria viajar para um festival de metal só foi revelada quando eu repentinamente virei o carro em direção ao aeroporto ao invés de pegar o caminho correto da praia. Até aquele momento ele não estava sabendo de nada. E só soube sobre a viagem depois que eu estacionei e contei pra ele, que ficou sem saber se acreditava ou não.
A felicidade em saber que iria para um show do Symphony X, banda que eu sou super fã e apresentei pra ele (que acabou virando fã também) foi o primeiro feedback do “usuário”. Coincidência ou não, ele havia comentado comigo dias antes da viagem que estava ouvindo a discografia da banda direto. Mal sabia que estava prestes a ir para o show de uma das bandas que ele mais curte.
Além do Symphony X, outras fantásticas bandas tocaram no festival (Doro, Candlemass, Helloween, Deep Purple, Scorpions). Foi sensacional! Todavia, uma delas tem um significado enorme na minha vida, que é o KISS. Banda que criou esse festival e que encerrou o dia (sim, o Festival começou às 11h30 e foi até às 23h30). Foi a banda que me apresentou o rock, o metal. Foi através de “I love it loud”, canção composta pelo baixista Gene Simons e o guitarrista Vinnie Vincent em 1982, para o álbum Creatures of the Night, um dos que eu mais gosto, que eu passei a curtir o estilo e começar a ser um “banger” desde a tenra adolescência. Aliás, infância. Eu tinha apenas 9 anos de idade.
Eu nunca tinha assistido a um show do KISS e essa era a oportunidade perfeita e única para fazê-lo. O KISS encerrou a sua turnê e carreira nos palcos após 50 anos de existência. Nasceu em 1973, tal como eu. Marcante, significativo e um encerramento de um ciclo para o começo de outro. Pelo menos para mim.
Eu não preciso dizer aqui o quanto Lucas ficou feliz. Com a surpresa, com a viagem, com os shows. Os momentos que dividimos nesse gesto simples de ir a um show mas com um impacto na relação pai e filho extremamente grande. Eu tenho certeza que isso ficará guardado em sua memória para sempre. E é exatamente aí, na forma como ele se sentiu com toda essa experiência que reside o eterno. É exatamente nesse registro de felicidade que ficaremos unidos e lembraremos com satisfação de todos os momentos que compartilhamos a essência e o significado da vida.
Eu tive a extrema honra e orgulho de proporcionar para meu filho (e, de quebra, para mim também) mais uma experiência de usuário (do metal) fantástica. Indescritível. Memorável. Inesquecível, “loud”!
O KISS para por aqui. Foi uma jornada linda e de muito sucesso.
A minha, espero, ainda está pela metade.
Eu sigo em frente. Sempre!
Te amo, filho!
(Sugestão de trilha para ler o artigo: I love it Loud – Kiss)
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A minha vida gira em torno da experiência do usuário.
Já há algum tempo (desde 2008) eu trabalho oficialmente como UX Designer, utilizando essa denominação para essa “nova” profissão.
Mas minha ficha sobre experiência do usuário caiu mesmo quando eu percebi que eu já fazia isso desde 1994, quando virei músico profissional. Logo depois, virei arquiteto. Em seguida, Webdesigner. Fui Designer de Produtos. Empresário da área de Mídias Interativas. Professor. Palestrante. Até que cheguei no UX Design. Desde lá, da música, eu já trabalhava para que o usuário tivesse a melhor experiência. Então, não foi uma mudança de propósito. Foram mudanças de profissões, papéis, responsabilidades.
De um tempo pra cá venho percebendo que tenho aplicado algumas abordagens do UX na minha vida pessoal. Hoje eu prego o mantra que “eu compro experiências” para a minha família.
Viagens, shows, finais de semana, restaurantes, passeios…tudo isso com a abordagem da “experiência” como fio condutor das decisões.
Neste final de semana do feriado de Tiradentes, vivi mais uma experiência. Desta vez com o meu filho Lucas, que aprendeu a gostar de rock desde pequeno.
Marquei com ele – com certa antecedência – para passar o feriadão comigo, em Itacimirim, na praia. Curtindo o sol, tomando banho de mar, conversando, fazendo churrasco, pizza e tudo mais o que fazemos quando estamos nos finais de semana por lá.
Até aí nada demais. O único problema é que era tudo mentira.
Preparei às escondidas uma viagem para um festival de metal em São Paulo – o Monsters of Rock – que nesta edição trouxe duas bandas com um significado especial para mim e para ele.
E a surpresa de saber que iria viajar para um festival de metal só foi revelada quando eu repentinamente virei o carro em direção ao aeroporto ao invés de pegar o caminho correto da praia. Até aquele momento ele não estava sabendo de nada. E só soube sobre a viagem depois que eu estacionei e contei pra ele, que ficou sem saber se acreditava ou não.
A felicidade em saber que iria para um show do Symphony X, banda que eu sou super fã e apresentei pra ele (que acabou virando fã também) foi o primeiro feedback do “usuário”. Coincidência ou não, ele havia comentado comigo dias antes da viagem que estava ouvindo a discografia da banda direto. Mal sabia que estava prestes a ir para o show de uma das bandas que ele mais curte.
Além do Symphony X, outras fantásticas bandas tocaram no festival (Doro, Candlemass, Helloween, Deep Purple, Scorpions). Foi sensacional! Todavia, uma delas tem um significado enorme na minha vida, que é o KISS. Banda que criou esse festival e que encerrou o dia (sim, o Festival começou às 11h30 e foi até às 23h30). Foi a banda que me apresentou o rock, o metal. Foi através de “I love it loud”, canção composta pelo baixista Gene Simons e o guitarrista Vinnie Vincent em 1982, para o álbum Creatures of the Night, um dos que eu mais gosto, que eu passei a curtir o estilo e começar a ser um “banger” desde a tenra adolescência. Aliás, infância. Eu tinha apenas 9 anos de idade.
Eu nunca tinha assistido a um show do KISS e essa era a oportunidade perfeita e única para fazê-lo. O KISS encerrou a sua turnê e carreira nos palcos após 50 anos de existência. Nasceu em 1973, tal como eu. Marcante, significativo e um encerramento de um ciclo para o começo de outro. Pelo menos para mim.
Eu não preciso dizer aqui o quanto Lucas ficou feliz. Com a surpresa, com a viagem, com os shows. Os momentos que dividimos nesse gesto simples de ir a um show mas com um impacto na relação pai e filho extremamente grande. Eu tenho certeza que isso ficará guardado em sua memória para sempre. E é exatamente aí, na forma como ele se sentiu com toda essa experiência que reside o eterno. É exatamente nesse registro de felicidade que ficaremos unidos e lembraremos com satisfação de todos os momentos que compartilhamos a essência e o significado da vida.
Eu tive a extrema honra e orgulho de proporcionar para meu filho (e, de quebra, para mim também) mais uma experiência de usuário (do metal) fantástica. Indescritível. Memorável. Inesquecível, “loud”!
O KISS para por aqui. Foi uma jornada linda e de muito sucesso.
Já que estamos sentados ao redor dessa fogueira aqui na nossa Pausa no Acampamento, contando histórias, quero trazer mais uma sobre uma experiência pessoal que foi muito marcante em minha vida. E continua sendo.
Pega mais um marshmallow e mais uma xícara de chá quente.
(Sugestão de trilha para ler o artigo: Dreams – Van Halen)
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Ao cair da tarde terminamos de nos arrumar para sair. Eu sentia um misto de excitação e dúvida.
Por quê estávamos indo olhar uma guitarra tão cara para nossas condições naquela época se não iríamos comprá-la?
Ao mesmo tempo, chegar tão perto de uma Fender Stratocaster americana era demais para minha ansiedade juvenil.
Chegamos no prédio do senhor que trouxe a guitarra dos Estados Unidos e a anunciou nos classificados do jornal de domingo.
O elevador não chegava nunca. Uma demora psicológica, claro.
Fomos recebidos pelo simpático senhor que nos acomodou em sua modesta sala e depois foi no quarto para buscar o instrumento. Até aquele momento eu nunca tinha chegado perto de uma guitarra tão icônica na minha vida.
Tinha ganhado de presente uma guitarra bem mais simples anos atrás e que me acompanhava nos ensaios com a turma da rua nos playgrounds. Uma barulheira gostosa. Fruto da inexperiência musical de todos os integrantes e da qualidade duvidosa de todos os instrumentos.
Sonhávamos em tocar em festivais de música de colégios e, quem sabe um dia, fazer shows pelo mundo. Com aqueles instrumentos e com a nossa pouca experiência como músicos, era ainda um sonho muito distante. O pseudo-sucesso mesmo era à noite, quando sentávamos com todos na calçada e com os violões tocávamos um repertório que era quase todo Legião Urbana.
A porta se abriu e o simpático senhor entrou na sala com um case preto novinho, com o símbolo da Fender em baixo relevo e um sorriso indecifrável no rosto. Eu me lembro daquele sorriso monalístico até hoje quando coisas muito positivas em minha vida acontecem.
Abrimos o case que estava deitado no sofá e o mundo inteiro ficou em slow motion. Milhares de acordes e solos fantásticos começaram a tocar em minha cabeça. Era música em sua forma mais perfeita. Era música como experiência real.
Ali estava um sonho inalcançável. Eu sabia que era uma guitarra cara demais. Estávamos somente pesquisando guitarras usadas. Todas que vimos estavam em estado deplorável. Não aquela. Nova. Intocada.
De repente ouvi meu pai negociando a compra daquele sonho. E eu fiquei sem entender. Eu fiquei sem reação. Havia a possibilidade de sair dali carregando aquele case.
Vinte e sete anos depois, ao abrir o case já surrado pelo tempo e pelo uso em tantos ensaios, shows, apresentações, eu lembro de meu pai todas as vezes. Eu lembro do sorriso em ver o filho olhar para a mãe com vontade de chorar de alegria. Eu lembro de descer o elevador do prédio do simpático senhor, ainda sem entender o que estava acontecendo, abraçado com o case da Fender.
Eu tenho a clara lembrança de chegar em casa e ligar para os companheiros da banda, pedindo para que eles viessem até minha casa urgentemente. Tapei seus olhos para só abrir na frente do case. Eu lembro das bocas abertas, dos olhos arregalados, dos espantos em voz alta com xingamentos e o pedido de desculpas logo em seguida.
Cada vez que eu abro o case e pego a guitarra, todas as histórias desse sonho que se realizou voltam à minha mente. E esse sentimento reverbera em cada acorde, cada show, cada melodia e harmonia que esta guitarra toca.
Um presente, um mimo, porque eu passei no vestibular mas que tem um significado muito maior do que esse.
Essa guitarra não é somente um instrumento musical. É a história da minha vida em música.