Estava ouvindo um podcast que eu gosto muito, o Auto-consciente, da Regina Giannetti e me deparei com um trecho lindo de um livro que ela reproduziu no episódio 141 (O que estamos fazendo da nossa vida?).
O livro é Os Segredos da Vida, de Elizabeth Kubler-Ross e David Kessler. Eu ainda não achei o livro para compra mas certamente está em minha lista de próximas leituras. Vou deixar aqui a transcrição do trecho do capítulo que leva o nome dessa postagem, que a Regina leu em seu podcast e que, acredito, serve não só para mim mas para todas as pessoas.
“Stephanie, uma mulher de 40 e poucos anos, contou a seguinte história em uma palestra. Certa tarde de sexta-feira, a vários anos, eu enfrentava o trânsito pesado na autoestrada entre Los Angeles e Palm Springs, para onde eu me dirigia.
Estava ansiosa para chegar ao deserto e passar um fim de semana tranquilo com alguns amigos. De repente, os carros que estavam à minha frente pararam. Consegui frear quase colada no carro da frente. Mas ao olhar pelo retrovisor, vi que o carro atrás de mim avançava na minha direção a uma tremenda velocidade.
Percebi que o meu carro ia ser violentamente atingido. Tomei consciência do grande perigo e do risco de morte que ocorria. Tudo aconteceu muito rapidamente. Olhei para as minhas mãos que apertavam o volante e ao ver como estavam contraídas, me dei conta de que esse era o meu estado natural. Tenso. Contraído. era assim que eu vivia.
Numa fração de segundo, concluí que não desejava viver daquela maneira, nem morrer daquele jeito. Fechei os olhos, respirei fundo e deixei cair as mãos ao lado do corpo. Por incrível que pareça, eu relaxei, entreguei minha vida e a morte. A seguir, sofri um tremendo impacto. Quando o movimento e o barulho pararam, abri os olhos.
Eu estava bem. O carro à minha frente estava destruído, o carro atrás de mim destroçado. O meu carro parecia uma sanfona. Mais tarde me disseram que eu tive sorte por ter relaxado, pois a tensão muscular aumenta a probabilidade de uma lesão grave. Mais tarde, no caminho para a casa dos meus amigos, senti que eu recebia um grande presente.
O presente foi muito maior do que ter sobrevivido sem ferimentos. Foi descobrir a forma como eu estiver vivendo a vida e receber a oportunidade de mudar. Eu tinha segurado a vida com a mão tensa e fechada, mas agora compreendia que podia sustentá-la com a mão aberta, como se ela fosse uma pena pousada na minha palma.
Entendi que, se era capaz de relaxar o suficiente para perder o medo diante da morte, agora seria capaz de verdadeiramente aproveitar a vida. Naquele momento, me senti mais ligada a mim mesma do que jamais estive antes.
Como muitos outros no limiar da morte, Stephanie aprendeu uma lição, não a respeito da morte, mas sobre a vida e o viver.
Todos nós, bem no fundo, conhecemos o nosso potencial. Sabemos quem podemos vir a ser e somos capazes de sentir quando estamos nos tornando essa pessoa. O inverso? também é verdadeiro.
Sabemos quando há alguma coisa errada e não estamos nos desenvolvendo no sentido da pessoa que fomos destinados a ser. Conscientemente ou não, estamos todos em busca de respostas, tentando aprender as lições da vida. Sofremos com o medo e a culpa. Procuramos significado para a vida, o amor e o poder. Tentamos entender a perda e o tempo. Investimos para descobrir quem somos e como podemos ser verdadeiramente felizes. Às vezes procuramos essas coisas nas pessoas que amamos, na religião e em Deus.
Mas com excessiva frequência, nós as buscamos no dinheiro, no status, no emprego perfeito. E descobrimos mais tarde que tudo isso não responde ao significado que esperávamos encontrar. Quando seguimos essas trilhas falsas, Como se fosse aquilo que buscamos mais essencialmente, acabamos, de forma inevitável, nos sentindo vazios, acreditando que a vida encerra muito pouco significado, até mesmo nenhum, e o amor e a felicidade não passam de ilusões.
Algumas pessoas encontram o significado da vida através do estudo, da iluminação ou da criatividade. Outras o descobrem nos momentos de crises dolorosas. ou quando são obrigadas a contemplar a morte de frente, seja por uma doença incurável, seja porque perderam os seres amados. Muitas pessoas que se encontraram no limite entre a vida e a morte e o ultrapassaram, descobriram depois que também estavam no limiar de uma nova vida.
Olhando diretamente no olho do monstro, frente a frente com a morte, se entregaram a ela completa e plenamente. Nesse momento, sua vida foi para sempre transformada, pois aprenderam uma lição fundamental. Essas pessoas foram obrigadas a decidir, nas trevas do desespero, o que queriam fazer com o resto de sua vida.
Essas lições certamente não são agradáveis, mas todos os que passam pela experiência descobrem que elas enriquecem suas vidas no que elas têm de essencial. Por que então esperar o final da vida para aprender as lições que podem ser assimiladas agora? E quais são essas lições? Quase todos nós enfrentamos os mesmos desafios.
A lição do medo, a lição da culpa, a da raiva, a lição do perdão, a da entrega, a do tempo, a lição da paciência, do amor, a dos relacionamentos, a lição do divertimento, a da perda, a do poder, a lição da autenticidade e a da felicidade.
Aprender as lições é como alcançar a maturidade. Não ficamos, de repente, mais felizes, ricos ou poderosos, mas passamos a entender melhor o mundo que nos cerca e nos sentimos em paz com nós mesmos. Aprender as lições da vida não significa tornar a vida perfeita, e sim ver a vida tal como ela é. Fomos colocados na Terra para aprender nossas lições. Ninguém pode nos dizer quais são. pois descobri-las faz parte da jornada de cada um de nós.
Essas jornadas podem nos trazer muitas ou poucas experiências em que as lições serão aprendidas, mas nunca além do que podemos suportar. Ao se defrontarem com uma perda, as pessoas com quem trabalhamos compreenderam que tudo que importa é o amor. O amor é, na verdade, a única coisa que podemos possuir. conservar e levar conosco.
Quando as circunstâncias são as piores possíveis, encontramos o que há de melhor em nós. Quando descobrimos o verdadeiro significado das lições que as experiências nos trazem, encontramos uma vida feliz e repleta de significado. Não uma vida perfeita, mas uma vida autêntica que pode ser profundamente vivida.”
(Disclaimer: este texto contém altas doses de indignação e ironia. Mas estou bem: tranquilo, focado no trabalho e pacientemente tomando um bom cappuccino com avelãs. Dei uma pausa para indignar vocês também).
Ontem, com a ajuda de meus filhos, eu tive a oportunidade de testemunhar o mais alto grau da idi…insensatez (estou tentando usar palavras mais amenas) digital humana (por enquanto). Sinceramente, ou eu não entendi ou a situação está realmente incontrolável e meu conceito de “chegamos ao fundo do poço” é apenas um estágio da longa queda do intelecto da humanidade. Tudo em prol da busca pelo dinheiro fácil.
Sim, estou falando das Lives NPC (Non-playable Character) no TikTok. Fui apresentado a esse novo hype que tem submetido algumas pessoas a uma vergonha alheia indescritível. Acredito que vivemos tempos onde há muito mais bobos da corte do que cidadãos no reino das mídias sociais. Se você nunca viu, faça uma simples busca no Youtube ou no TikTok.
A degradação imagética e a necessidade de chamar a atenção para ter farelos de aprovação alheia (mas algum dinheiro também) já demonstra esse gigantesco buraco negro de vazio interior de quem se submete a essa insensatez (novamente o cuidado com as palavras) e de quem assiste a contribui para perpetuar essa fantástica jornada rumo ao desperdício de vida. Pensando bem, talvez não seja nem um desperdício, já que para tal é necessário possuir o que se desperdiça.
Essas marionetes do sadismo inconsciente (talvez consciente, vai saber) ou dos coadjuvantes tão insensatos (opa! de novo) quanto, provavelmente não tem a menor noção que sua tentativa de entreter é apenas pura demonstração de uma existência desproposital. Mas também a busca desesperada por dinheiro. O que acredito ser o caso da maioria para ser sincero. E também acredito que esse hype vai passar rápido. Como todos passam. E a pergunta que fica é: como será o próximo?
Eu tinha prometido não reclamar ou criticar os absurdos que chocam a mim todos os dias. Peço desculpas por hoje. Não resisti. Prometo que não vai mais acontecer essa semana.
Todavia, apesar de minha opinião ser essa, afirmo que a livre expressão é direito inalienável de cada um, sendo um completo idi…insensato ou um quase-velho rabugento.
Eu tava ali, no meio daquela festa bonita de casamento, onde todos estavam animados, dançando e comemorando mais uma união nesse mundo. A música não estava tão alta e isso me agradava muito pois não gosto de música muito alta em festas. Só se for Metal! E mesmo assim, tem um limite de decibéis. Sabe como é a idade, né?
O clima agradável e a música do biquini de bolinha amarelinho me transportou a alguns anos em minha adolescência, quando ainda morava com meus pais e minha avó.
Lembro bem dela chegando pelo corredor, com seus passinhos tímidos e cautelosos em direção à cozinha, sabendo que em instantes o neto que ela mais gostava (isso era segredo) iria levantar repentinamente e iria pegá-la pelos braços.
Antes mesmo de levantar ela já olhava desconfiada. Às vezes começava a dizer “não, não”, com um sorriso disfarçado no rosto só de eu olhar pra ela. Não tinha jeito.
Levantava correndo, tomava a velha nos braços e começava a dançar. Era valsa, tango, lambada…o que tocasse. Ela gritava que estava tonta e ria…ria e dançava. Eu desmanchava seu cabelinho branco de algodão-doce todo. E sua mãozinha tão enrugada e lentidão de movimentos tentava ajeitar sem sucesso.
Ouvia minha mãe gritar do quato: “Sua vó vai ficar tonta, para Laert, ela vai cair, não faça isso!”. Eu não dava a mínima. E minha vó adorava. Dançava alguns instantes, rodopiando pela sala, se batendo nos móveis. Girando, girando.
Eu cantava e ela gritava. Pedia socorro para a filha…rindo. Mas não adiantava. Ela adorava dançar.
Hoje eu lembrei de minha velhinha. Lembrei e quase chorei na festa, porque nunca mais eu dancei assim. Nunca mais rodopiei na sala. Mas sei que haverá um momento em que eu pedirei para uma certa menina parar. Eu, inclusive, espero que ela me tome nos braços e rodopie, até eu ficar tonto, com sorriso no rosto, pedindo para ela parar.
E, de todas as lembranças, o que eu sinto mais falta era de seu sorriso contido e sua vontade escondida de dançar comigo.
Não pense que você não escapou, minha véia!
Um dia ainda vou te pegar, onde quer que você esteja pra gente rodopiar…só que agora, nas nuvens. Um beijo muito saudoso.
(Sugestão de trilha para ler o artigo: Nenhuma. Apenas o silêncio)
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Despachei minha mala no aeroporto carregada de expectativas e a sensação refrescante dos inúmeros banhos de cultura e beleza que sempre encontrei quando viajava para a maior cidade da América Latina.
Era feriado e a primeira coisa que fiz com a família foi caminhar para almoçar na Paulista, já que o hotel era próximo.
Diante dos malabares, bancas de bugigangas e bandinhas legais desconhecidas, notei que estávamos dentro de uma daquelas lindas bolhas de sabão que encantam as crianças.
Nossa bolha era um escudo colorido e distorcido que flutuava sobre a realidade monocromática cinza da cidade. Almoçamos em lugares lindos, andamos em centros culturais, visitamos museus, compramos o luxo e o lixo, curtimos o festival de música por dois dias.
Dentro de nossa bolha de sabão, sobravam sorrisos.
Mas como a bolha de sabão é transparente e enquanto flutuava pela cidade com motoristas de aplicativos, a gente via a fétida realidade das calçadas do centro da cidade. O contraponto da leveza e do colorido.
São Paulo me deixou marcas dessa vez. Na minha retina.
Foi deprimente enxergar de dentro da bolha toda a indiferença, pobreza, solidão, tristeza e desrespeito que a opulência de uma cidade gigantesca gera em centenas, milhares de pessoas que habitam as ruas, que fazem do chão sujo e pisado o seu colchão.
A população do infortúnio cresce a cada ida minha para lá e o mal-cheiro social fica cada vez mais evidente.
O conforto da bolha me entrega experiências fantásticas e eu sou grato por isso.
Mas ela não tapa a visão da realidade do outro lado da fina e transparente parede de água e sabão. Dois simples elementos que faltam para todos os que vi pelo caminho e que não limpam nossa consciência a cada banho quente que tomamos.
Ah, quem dera se um pouco das belezas que a cidade oferece respingasse na vida dessas ainda pessoas!
A mala voltou mais cheia. E não foi de compras e roupas sujas.
“A cidade não para, a cidade só cresce. O de cima sobe e o de baixo desce”. (Chico Science)
(Sugestão de trilha para ler o artigo: I love it Loud – Kiss)
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A minha vida gira em torno da experiência do usuário.
Já há algum tempo (desde 2008) eu trabalho oficialmente como UX Designer, utilizando essa denominação para essa “nova” profissão.
Mas minha ficha sobre experiência do usuário caiu mesmo quando eu percebi que eu já fazia isso desde 1994, quando virei músico profissional. Logo depois, virei arquiteto. Em seguida, Webdesigner. Fui Designer de Produtos. Empresário da área de Mídias Interativas. Professor. Palestrante. Até que cheguei no UX Design. Desde lá, da música, eu já trabalhava para que o usuário tivesse a melhor experiência. Então, não foi uma mudança de propósito. Foram mudanças de profissões, papéis, responsabilidades.
De um tempo pra cá venho percebendo que tenho aplicado algumas abordagens do UX na minha vida pessoal. Hoje eu prego o mantra que “eu compro experiências” para a minha família.
Viagens, shows, finais de semana, restaurantes, passeios…tudo isso com a abordagem da “experiência” como fio condutor das decisões.
Neste final de semana do feriado de Tiradentes, vivi mais uma experiência. Desta vez com o meu filho Lucas, que aprendeu a gostar de rock desde pequeno.
Marquei com ele – com certa antecedência – para passar o feriadão comigo, em Itacimirim, na praia. Curtindo o sol, tomando banho de mar, conversando, fazendo churrasco, pizza e tudo mais o que fazemos quando estamos nos finais de semana por lá.
Até aí nada demais. O único problema é que era tudo mentira.
Preparei às escondidas uma viagem para um festival de metal em São Paulo – o Monsters of Rock – que nesta edição trouxe duas bandas com um significado especial para mim e para ele.
E a surpresa de saber que iria viajar para um festival de metal só foi revelada quando eu repentinamente virei o carro em direção ao aeroporto ao invés de pegar o caminho correto da praia. Até aquele momento ele não estava sabendo de nada. E só soube sobre a viagem depois que eu estacionei e contei pra ele, que ficou sem saber se acreditava ou não.
A felicidade em saber que iria para um show do Symphony X, banda que eu sou super fã e apresentei pra ele (que acabou virando fã também) foi o primeiro feedback do “usuário”. Coincidência ou não, ele havia comentado comigo dias antes da viagem que estava ouvindo a discografia da banda direto. Mal sabia que estava prestes a ir para o show de uma das bandas que ele mais curte.
Além do Symphony X, outras fantásticas bandas tocaram no festival (Doro, Candlemass, Helloween, Deep Purple, Scorpions). Foi sensacional! Todavia, uma delas tem um significado enorme na minha vida, que é o KISS. Banda que criou esse festival e que encerrou o dia (sim, o Festival começou às 11h30 e foi até às 23h30). Foi a banda que me apresentou o rock, o metal. Foi através de “I love it loud”, canção composta pelo baixista Gene Simons e o guitarrista Vinnie Vincent em 1982, para o álbum Creatures of the Night, um dos que eu mais gosto, que eu passei a curtir o estilo e começar a ser um “banger” desde a tenra adolescência. Aliás, infância. Eu tinha apenas 9 anos de idade.
Eu nunca tinha assistido a um show do KISS e essa era a oportunidade perfeita e única para fazê-lo. O KISS encerrou a sua turnê e carreira nos palcos após 50 anos de existência. Nasceu em 1973, tal como eu. Marcante, significativo e um encerramento de um ciclo para o começo de outro. Pelo menos para mim.
Eu não preciso dizer aqui o quanto Lucas ficou feliz. Com a surpresa, com a viagem, com os shows. Os momentos que dividimos nesse gesto simples de ir a um show mas com um impacto na relação pai e filho extremamente grande. Eu tenho certeza que isso ficará guardado em sua memória para sempre. E é exatamente aí, na forma como ele se sentiu com toda essa experiência que reside o eterno. É exatamente nesse registro de felicidade que ficaremos unidos e lembraremos com satisfação de todos os momentos que compartilhamos a essência e o significado da vida.
Eu tive a extrema honra e orgulho de proporcionar para meu filho (e, de quebra, para mim também) mais uma experiência de usuário (do metal) fantástica. Indescritível. Memorável. Inesquecível, “loud”!
O KISS para por aqui. Foi uma jornada linda e de muito sucesso.
A minha, espero, ainda está pela metade.
Eu sigo em frente. Sempre!
Te amo, filho!
(Sugestão de trilha para ler o artigo: I love it Loud – Kiss)
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A minha vida gira em torno da experiência do usuário.
Já há algum tempo (desde 2008) eu trabalho oficialmente como UX Designer, utilizando essa denominação para essa “nova” profissão.
Mas minha ficha sobre experiência do usuário caiu mesmo quando eu percebi que eu já fazia isso desde 1994, quando virei músico profissional. Logo depois, virei arquiteto. Em seguida, Webdesigner. Fui Designer de Produtos. Empresário da área de Mídias Interativas. Professor. Palestrante. Até que cheguei no UX Design. Desde lá, da música, eu já trabalhava para que o usuário tivesse a melhor experiência. Então, não foi uma mudança de propósito. Foram mudanças de profissões, papéis, responsabilidades.
De um tempo pra cá venho percebendo que tenho aplicado algumas abordagens do UX na minha vida pessoal. Hoje eu prego o mantra que “eu compro experiências” para a minha família.
Viagens, shows, finais de semana, restaurantes, passeios…tudo isso com a abordagem da “experiência” como fio condutor das decisões.
Neste final de semana do feriado de Tiradentes, vivi mais uma experiência. Desta vez com o meu filho Lucas, que aprendeu a gostar de rock desde pequeno.
Marquei com ele – com certa antecedência – para passar o feriadão comigo, em Itacimirim, na praia. Curtindo o sol, tomando banho de mar, conversando, fazendo churrasco, pizza e tudo mais o que fazemos quando estamos nos finais de semana por lá.
Até aí nada demais. O único problema é que era tudo mentira.
Preparei às escondidas uma viagem para um festival de metal em São Paulo – o Monsters of Rock – que nesta edição trouxe duas bandas com um significado especial para mim e para ele.
E a surpresa de saber que iria viajar para um festival de metal só foi revelada quando eu repentinamente virei o carro em direção ao aeroporto ao invés de pegar o caminho correto da praia. Até aquele momento ele não estava sabendo de nada. E só soube sobre a viagem depois que eu estacionei e contei pra ele, que ficou sem saber se acreditava ou não.
A felicidade em saber que iria para um show do Symphony X, banda que eu sou super fã e apresentei pra ele (que acabou virando fã também) foi o primeiro feedback do “usuário”. Coincidência ou não, ele havia comentado comigo dias antes da viagem que estava ouvindo a discografia da banda direto. Mal sabia que estava prestes a ir para o show de uma das bandas que ele mais curte.
Além do Symphony X, outras fantásticas bandas tocaram no festival (Doro, Candlemass, Helloween, Deep Purple, Scorpions). Foi sensacional! Todavia, uma delas tem um significado enorme na minha vida, que é o KISS. Banda que criou esse festival e que encerrou o dia (sim, o Festival começou às 11h30 e foi até às 23h30). Foi a banda que me apresentou o rock, o metal. Foi através de “I love it loud”, canção composta pelo baixista Gene Simons e o guitarrista Vinnie Vincent em 1982, para o álbum Creatures of the Night, um dos que eu mais gosto, que eu passei a curtir o estilo e começar a ser um “banger” desde a tenra adolescência. Aliás, infância. Eu tinha apenas 9 anos de idade.
Eu nunca tinha assistido a um show do KISS e essa era a oportunidade perfeita e única para fazê-lo. O KISS encerrou a sua turnê e carreira nos palcos após 50 anos de existência. Nasceu em 1973, tal como eu. Marcante, significativo e um encerramento de um ciclo para o começo de outro. Pelo menos para mim.
Eu não preciso dizer aqui o quanto Lucas ficou feliz. Com a surpresa, com a viagem, com os shows. Os momentos que dividimos nesse gesto simples de ir a um show mas com um impacto na relação pai e filho extremamente grande. Eu tenho certeza que isso ficará guardado em sua memória para sempre. E é exatamente aí, na forma como ele se sentiu com toda essa experiência que reside o eterno. É exatamente nesse registro de felicidade que ficaremos unidos e lembraremos com satisfação de todos os momentos que compartilhamos a essência e o significado da vida.
Eu tive a extrema honra e orgulho de proporcionar para meu filho (e, de quebra, para mim também) mais uma experiência de usuário (do metal) fantástica. Indescritível. Memorável. Inesquecível, “loud”!
O KISS para por aqui. Foi uma jornada linda e de muito sucesso.
A minha, espero, ainda está pela metade.
Eu sigo em frente. Sempre!
Te amo, filho!
(Sugestão de trilha para ler o artigo: I love it Loud – Kiss)
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A minha vida gira em torno da experiência do usuário.
Já há algum tempo (desde 2008) eu trabalho oficialmente como UX Designer, utilizando essa denominação para essa “nova” profissão.
Mas minha ficha sobre experiência do usuário caiu mesmo quando eu percebi que eu já fazia isso desde 1994, quando virei músico profissional. Logo depois, virei arquiteto. Em seguida, Webdesigner. Fui Designer de Produtos. Empresário da área de Mídias Interativas. Professor. Palestrante. Até que cheguei no UX Design. Desde lá, da música, eu já trabalhava para que o usuário tivesse a melhor experiência. Então, não foi uma mudança de propósito. Foram mudanças de profissões, papéis, responsabilidades.
De um tempo pra cá venho percebendo que tenho aplicado algumas abordagens do UX na minha vida pessoal. Hoje eu prego o mantra que “eu compro experiências” para a minha família.
Viagens, shows, finais de semana, restaurantes, passeios…tudo isso com a abordagem da “experiência” como fio condutor das decisões.
Neste final de semana do feriado de Tiradentes, vivi mais uma experiência. Desta vez com o meu filho Lucas, que aprendeu a gostar de rock desde pequeno.
Marquei com ele – com certa antecedência – para passar o feriadão comigo, em Itacimirim, na praia. Curtindo o sol, tomando banho de mar, conversando, fazendo churrasco, pizza e tudo mais o que fazemos quando estamos nos finais de semana por lá.
Até aí nada demais. O único problema é que era tudo mentira.
Preparei às escondidas uma viagem para um festival de metal em São Paulo – o Monsters of Rock – que nesta edição trouxe duas bandas com um significado especial para mim e para ele.
E a surpresa de saber que iria viajar para um festival de metal só foi revelada quando eu repentinamente virei o carro em direção ao aeroporto ao invés de pegar o caminho correto da praia. Até aquele momento ele não estava sabendo de nada. E só soube sobre a viagem depois que eu estacionei e contei pra ele, que ficou sem saber se acreditava ou não.
A felicidade em saber que iria para um show do Symphony X, banda que eu sou super fã e apresentei pra ele (que acabou virando fã também) foi o primeiro feedback do “usuário”. Coincidência ou não, ele havia comentado comigo dias antes da viagem que estava ouvindo a discografia da banda direto. Mal sabia que estava prestes a ir para o show de uma das bandas que ele mais curte.
Além do Symphony X, outras fantásticas bandas tocaram no festival (Doro, Candlemass, Helloween, Deep Purple, Scorpions). Foi sensacional! Todavia, uma delas tem um significado enorme na minha vida, que é o KISS. Banda que criou esse festival e que encerrou o dia (sim, o Festival começou às 11h30 e foi até às 23h30). Foi a banda que me apresentou o rock, o metal. Foi através de “I love it loud”, canção composta pelo baixista Gene Simons e o guitarrista Vinnie Vincent em 1982, para o álbum Creatures of the Night, um dos que eu mais gosto, que eu passei a curtir o estilo e começar a ser um “banger” desde a tenra adolescência. Aliás, infância. Eu tinha apenas 9 anos de idade.
Eu nunca tinha assistido a um show do KISS e essa era a oportunidade perfeita e única para fazê-lo. O KISS encerrou a sua turnê e carreira nos palcos após 50 anos de existência. Nasceu em 1973, tal como eu. Marcante, significativo e um encerramento de um ciclo para o começo de outro. Pelo menos para mim.
Eu não preciso dizer aqui o quanto Lucas ficou feliz. Com a surpresa, com a viagem, com os shows. Os momentos que dividimos nesse gesto simples de ir a um show mas com um impacto na relação pai e filho extremamente grande. Eu tenho certeza que isso ficará guardado em sua memória para sempre. E é exatamente aí, na forma como ele se sentiu com toda essa experiência que reside o eterno. É exatamente nesse registro de felicidade que ficaremos unidos e lembraremos com satisfação de todos os momentos que compartilhamos a essência e o significado da vida.
Eu tive a extrema honra e orgulho de proporcionar para meu filho (e, de quebra, para mim também) mais uma experiência de usuário (do metal) fantástica. Indescritível. Memorável. Inesquecível, “loud”!
O KISS para por aqui. Foi uma jornada linda e de muito sucesso.
A minha, espero, ainda está pela metade.
Eu sigo em frente. Sempre!
Te amo, filho!
(Sugestão de trilha para ler o artigo: I love it Loud – Kiss)
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A minha vida gira em torno da experiência do usuário.
Já há algum tempo (desde 2008) eu trabalho oficialmente como UX Designer, utilizando essa denominação para essa “nova” profissão.
Mas minha ficha sobre experiência do usuário caiu mesmo quando eu percebi que eu já fazia isso desde 1994, quando virei músico profissional. Logo depois, virei arquiteto. Em seguida, Webdesigner. Fui Designer de Produtos. Empresário da área de Mídias Interativas. Professor. Palestrante. Até que cheguei no UX Design. Desde lá, da música, eu já trabalhava para que o usuário tivesse a melhor experiência. Então, não foi uma mudança de propósito. Foram mudanças de profissões, papéis, responsabilidades.
De um tempo pra cá venho percebendo que tenho aplicado algumas abordagens do UX na minha vida pessoal. Hoje eu prego o mantra que “eu compro experiências” para a minha família.
Viagens, shows, finais de semana, restaurantes, passeios…tudo isso com a abordagem da “experiência” como fio condutor das decisões.
Neste final de semana do feriado de Tiradentes, vivi mais uma experiência. Desta vez com o meu filho Lucas, que aprendeu a gostar de rock desde pequeno.
Marquei com ele – com certa antecedência – para passar o feriadão comigo, em Itacimirim, na praia. Curtindo o sol, tomando banho de mar, conversando, fazendo churrasco, pizza e tudo mais o que fazemos quando estamos nos finais de semana por lá.
Até aí nada demais. O único problema é que era tudo mentira.
Preparei às escondidas uma viagem para um festival de metal em São Paulo – o Monsters of Rock – que nesta edição trouxe duas bandas com um significado especial para mim e para ele.
E a surpresa de saber que iria viajar para um festival de metal só foi revelada quando eu repentinamente virei o carro em direção ao aeroporto ao invés de pegar o caminho correto da praia. Até aquele momento ele não estava sabendo de nada. E só soube sobre a viagem depois que eu estacionei e contei pra ele, que ficou sem saber se acreditava ou não.
A felicidade em saber que iria para um show do Symphony X, banda que eu sou super fã e apresentei pra ele (que acabou virando fã também) foi o primeiro feedback do “usuário”. Coincidência ou não, ele havia comentado comigo dias antes da viagem que estava ouvindo a discografia da banda direto. Mal sabia que estava prestes a ir para o show de uma das bandas que ele mais curte.
Além do Symphony X, outras fantásticas bandas tocaram no festival (Doro, Candlemass, Helloween, Deep Purple, Scorpions). Foi sensacional! Todavia, uma delas tem um significado enorme na minha vida, que é o KISS. Banda que criou esse festival e que encerrou o dia (sim, o Festival começou às 11h30 e foi até às 23h30). Foi a banda que me apresentou o rock, o metal. Foi através de “I love it loud”, canção composta pelo baixista Gene Simons e o guitarrista Vinnie Vincent em 1982, para o álbum Creatures of the Night, um dos que eu mais gosto, que eu passei a curtir o estilo e começar a ser um “banger” desde a tenra adolescência. Aliás, infância. Eu tinha apenas 9 anos de idade.
Eu nunca tinha assistido a um show do KISS e essa era a oportunidade perfeita e única para fazê-lo. O KISS encerrou a sua turnê e carreira nos palcos após 50 anos de existência. Nasceu em 1973, tal como eu. Marcante, significativo e um encerramento de um ciclo para o começo de outro. Pelo menos para mim.
Eu não preciso dizer aqui o quanto Lucas ficou feliz. Com a surpresa, com a viagem, com os shows. Os momentos que dividimos nesse gesto simples de ir a um show mas com um impacto na relação pai e filho extremamente grande. Eu tenho certeza que isso ficará guardado em sua memória para sempre. E é exatamente aí, na forma como ele se sentiu com toda essa experiência que reside o eterno. É exatamente nesse registro de felicidade que ficaremos unidos e lembraremos com satisfação de todos os momentos que compartilhamos a essência e o significado da vida.
Eu tive a extrema honra e orgulho de proporcionar para meu filho (e, de quebra, para mim também) mais uma experiência de usuário (do metal) fantástica. Indescritível. Memorável. Inesquecível, “loud”!
O KISS para por aqui. Foi uma jornada linda e de muito sucesso.
Já que estamos sentados ao redor dessa fogueira aqui na nossa Pausa no Acampamento, contando histórias, quero trazer mais uma sobre uma experiência pessoal que foi muito marcante em minha vida. E continua sendo.
Pega mais um marshmallow e mais uma xícara de chá quente.
(Sugestão de trilha para ler o artigo: Dreams – Van Halen)
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Ao cair da tarde terminamos de nos arrumar para sair. Eu sentia um misto de excitação e dúvida.
Por quê estávamos indo olhar uma guitarra tão cara para nossas condições naquela época se não iríamos comprá-la?
Ao mesmo tempo, chegar tão perto de uma Fender Stratocaster americana era demais para minha ansiedade juvenil.
Chegamos no prédio do senhor que trouxe a guitarra dos Estados Unidos e a anunciou nos classificados do jornal de domingo.
O elevador não chegava nunca. Uma demora psicológica, claro.
Fomos recebidos pelo simpático senhor que nos acomodou em sua modesta sala e depois foi no quarto para buscar o instrumento. Até aquele momento eu nunca tinha chegado perto de uma guitarra tão icônica na minha vida.
Tinha ganhado de presente uma guitarra bem mais simples anos atrás e que me acompanhava nos ensaios com a turma da rua nos playgrounds. Uma barulheira gostosa. Fruto da inexperiência musical de todos os integrantes e da qualidade duvidosa de todos os instrumentos.
Sonhávamos em tocar em festivais de música de colégios e, quem sabe um dia, fazer shows pelo mundo. Com aqueles instrumentos e com a nossa pouca experiência como músicos, era ainda um sonho muito distante. O pseudo-sucesso mesmo era à noite, quando sentávamos com todos na calçada e com os violões tocávamos um repertório que era quase todo Legião Urbana.
A porta se abriu e o simpático senhor entrou na sala com um case preto novinho, com o símbolo da Fender em baixo relevo e um sorriso indecifrável no rosto. Eu me lembro daquele sorriso monalístico até hoje quando coisas muito positivas em minha vida acontecem.
Abrimos o case que estava deitado no sofá e o mundo inteiro ficou em slow motion. Milhares de acordes e solos fantásticos começaram a tocar em minha cabeça. Era música em sua forma mais perfeita. Era música como experiência real.
Ali estava um sonho inalcançável. Eu sabia que era uma guitarra cara demais. Estávamos somente pesquisando guitarras usadas. Todas que vimos estavam em estado deplorável. Não aquela. Nova. Intocada.
De repente ouvi meu pai negociando a compra daquele sonho. E eu fiquei sem entender. Eu fiquei sem reação. Havia a possibilidade de sair dali carregando aquele case.
Vinte e sete anos depois, ao abrir o case já surrado pelo tempo e pelo uso em tantos ensaios, shows, apresentações, eu lembro de meu pai todas as vezes. Eu lembro do sorriso em ver o filho olhar para a mãe com vontade de chorar de alegria. Eu lembro de descer o elevador do prédio do simpático senhor, ainda sem entender o que estava acontecendo, abraçado com o case da Fender.
Eu tenho a clara lembrança de chegar em casa e ligar para os companheiros da banda, pedindo para que eles viessem até minha casa urgentemente. Tapei seus olhos para só abrir na frente do case. Eu lembro das bocas abertas, dos olhos arregalados, dos espantos em voz alta com xingamentos e o pedido de desculpas logo em seguida.
Cada vez que eu abro o case e pego a guitarra, todas as histórias desse sonho que se realizou voltam à minha mente. E esse sentimento reverbera em cada acorde, cada show, cada melodia e harmonia que esta guitarra toca.
Um presente, um mimo, porque eu passei no vestibular mas que tem um significado muito maior do que esse.
Essa guitarra não é somente um instrumento musical. É a história da minha vida em música.
Apesar de discordar dessa frase proferida pelo Cypher no filme Matrix de 1999 num âmbito geral, em alguns momentos da vida ela faz sentido para mim. São poucos, mas faz.
Estamos chegando em um período que é bastante chato e traz à reboque uma série de problemas que são difíceis de remediar. Estou falando das eleições. Já que temos a possibilidade de livre expressão (nem tanto), as redes estão inundadas com postagens de reclamações, militâncias, argumentações, ofensas, discursos de ódio e de amor odioso camuflado, enfim, uma série de tentativas de posicionamento com e sem sentido apenas para fazer valer o direito de se posicionar num dos lados da balança de horrores.
Atitudes binárias num discurso não-binário.
Eu decidi, por livre e espontânea falta de opção, exercer o meu direito à ignorância. Faço isso contra a minha vontade, ao mesmo tempo que tomo essa decisão para ter saúde mental e conseguir me distanciar da energia negativa e irritante que paira sobre todo e qualquer ponto de contato com as redes.
Abdico de muitos, muitos grupos no Whatsapp, onde o que prevalece é a militância imbecil do enaltecimento da desonra, representada por falsos heróis, que nos intervalos do marketing e da lavagem cerebral, brindam juntos pela disputa e alternância da canalhice ovacionada, rindo largamente das marionetes que já não precisam mais de cordinhas para se mexerem. Idiotia autômata.
Discutir política deixou de ser discutir política. Não se discute mais ideias. Aliás, não há nem mais a discussão no sentido puro e benéfico do ato. Falar das atrocidades e acusações virou o esporte favorito da grande manada que se posiciona na expectativa de ter sua identidade conferida pela aprovação alheia. Senso de pertencimento de grupo para acalmar um pouco o mar revolto do vazio interior que tanto incomoda sem nem mesmo ser consciente. E destilar a raiva contida pela consciência da finitude e insignificância.
Já não acesso mais as redes como acessava anteriormente. E todo post que leio com cunho político, aliás, nem deveria chamar de político e sim de manipulação (consciente ou inconsciente), eu removo da minha timeline. Cancelo inscrições. Paro de seguir. Simples assim.
O resultado disso é que tem feito um bem danado. E é só por isso, pela minha paz e saúde mental (que tá cada dia mais difícil da gente controlar) que eu concordo com o Cypher.
Martin Luther King disse certa vez que “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.”
(Sugestão de trilha para ler o artigo: Synchronicity I – The Police)
Outro dia uma enquete aqui no LinkedIn perguntava qual era a habilidade mais importante para um UX Designer. Eu não tive dúvidas: a habilidade de ouvir cuidadosamente.
É o que eu procuro fazer (e faço) nas minhas pesquisas, nas observações, nas investigações profundas para mapear contextos e definir bem o problema a ser atacado. Vale ressaltar que esse “ouvir” vai além do escutar propriamente dito. Há aí o componente da percepção e da suposição que devem ser levados em consideração para serem provados verdadeiros ou falsos.
Hoje eu me esforcei para aplicar essa habilidade com meu filho, sem a interferência da condição inexorável da paternidade. E vou confessar: é muito, muito difícil. Mas eu consegui.
Essa dificuldade vem da expectativa criada sobre uma camada de acontecimentos idealizada pelos pais em relação aos seus filhos. Tá, generalizei…mas duvido que, de alguma forma, os pais não tenham esse “roadmap” da vida da prole em suas ingênuas cabecinhas.
–Até agora não entendi, Lau. O que você está querendo dizer com tudo isso?
Fiz uma pergunta para meu filho hoje para saber se ele tinha clareza sobre as decisões e erros que havia cometido nos últimos anos de sua vida. E, como pai-ux-designer preparei meu caderninho e meus ouvidos para analisar a resposta.
Não vou, obviamente, entrar nos detalhes da conversa mas o que aprendi (mais uma vez) com a resposta foi que nem tudo o que eu achava que era erro, era erro. Nem tudo o que eu achava que era obscuro, era obscuro. Nem tudo o que eu achava que era uma decisão, era uma decisão.
Ouvir o ponto de vista e perceber todas as nuances em sua voz nas respostas me fizeram refletir sobre as minhas expectativas e crenças em relação à vida dele. E aos poucos EU tive a clareza de que EU buscava atitudes nele como um viés de confirmação.
Acostumado em ser um mentor e direcionar um caminho que, na minha percepção, leva ao sucesso, não enxergava o ponto de vista e aposta dele num caminho que, nesse momento, faz sentido para ele.
É óbvio que, sendo pai, eu conto as histórias e experiências vividas por mim e é exatamente aí que chegam as expectativas: na tentativa de direcionar um caminho melhor, mais fácil, menos turbulento.
Mas é na turbulência, na dificuldade, no aprendizado das escolhas certas e erradas que a gente cresce. Ninguém evolui de verdade na zona de conforto. E soltar o filho para que ele saia dessa zona é difícil. Mas necessário.
Talvez boa parte dos leitores desse breve artigo não tenham ainda noção do que realmente estou falando. É preciso ter um filho para saber.
Tudo acontece no seu tempo.
O certo e o errado. E ambos servem para aprender.
E dessa vez quem aprendeu…adivinhe?!
Pois é, Papai UX.
E agora sugiro que você termine o artigo ouvindo Synchronicity II, do The Police, claro.
Na expectativa de que meu filho não tenha que olhar para a vida dele como ouvimos na música. (Pronto…lá vem a expectativa novamente)
Mas se tudo fosse flores na vida do Sting, não haveria Synchronicity. E talvez, nem o The Police.
Filho, siga em frente. Sempre!
(update de sincronicidade: o álbum Synchronicity, do The Police, foi lançado no dia 17 de junho, data de aniversário do meu filho. Eu só percebi isso depois de ter publicado o artigo)
Ou: o que uma viagem para a Chapada Diamantina me ensinou sobre antecipação de problemas e resistência à mudanças.
(Disclaimer: o texto é longo. Então, se você tem muita coisa para fazer e não pode dedicar 5 minutinhos para ler esse artigo, você está errado. Pare o que está fazendo e leia. Obrigado). 🙂
De vez em quando eu ligo os pontos mesmo em momentos de puro lazer.
Aliás, eu só estou falando sobre lazer agora porque já passei por toda a experiência e percebi que, mais uma vez, eu fui sequestrado pela ansiedade e medo da mudança.
Deixe eu explicar:
O São João é uma festa bem tradicional no nordeste do País. E na minha humilde opinião, é a melhor festa do ano. Muita comida, muita bebida (eu não bebo mas pra quem bebe e gosta…), muito forró (o verdadeiro pé-de-serra, né? Nada desses forrós-fake universitários). É um clima fantástico.
E para esse ano, já que as cordas que represavam todo mundo foram baixadas, eu e minha esposa decidimos viajar para algum lugar bacana e que tivesse um São João com boas atrações para curtirmos o clima junino.
Eis que, após votações e análises de possibilidades, escolhemos a Chapada Diamantina – coração da Bahia e lugar de belezas naturais indescritíveis.
Reservei hotel, levei o carro para uma boa revisão e comecei a escolher algumas das atrações dentre as milhares que existem por lá.
Cachoeiras, grutas, cavernas, lagoas, rios, morros. Tudo muito lindo. Tudo muito fantástico.
Mas para chegar em cada uma dessas atrações sempre tinha uma trilha, um desafio, diversas subidas íngremes, ladeiras, rochas, mata fechada, armadilhas para ursos camufladas no chão, bichos peçonhentos, crateras que se abriam no chão do nada, desidratação, esforço físico mortal…pronto: cabeça sequestrada pela antecipação de coisas que eu sequer sabia se eram reais ou não.
E vou ser sincero, dentre tudo o que eu listei exageradamente acima, o que mais me incomodava era o esforço físico mortal. Eu sabia que, pelo menos isso, era real.
Olhei muitos canais no Youtube, né? E ficava caçando os videos que o pessoal dizia que você tinha que ter passado pelo treinamento dos Navy Seals para subir no Morro do Pai Inácio ou descer (e ter que subir) lá no Poço Encantado.
Não adianta você tentar entender isso. Sou hipertenso e sedentário. E antes da viagem estava muito hipocondríaco. Confesso.
Ou seja: receita para o caos. Eu e a Chapada Diamantina. Dois elementos completamente opostos.
Mas eu tinha que verificar se era mesmo tão oposto assim e por isso o desafio foi aceito e na data planejada pegamos o carro e partimos para a Chapada. Mais especificamente para a cidade de Lençóis, nosso ponto de partida para tudo.
Montei toda uma programação com as atividades e os turnos em cada uma delas. Tudo trabalhado no Keynote, coisa linda de Deus. Pensei até em imprimir para fazer um quadro de recordação (pensando bem…até que não é uma má ideia agora).
Planejamento lindo, vocês precisam ver.
Daí que eu, orgulhosamente, mandei para um casal de amigos que tinha passado por lá 2 meses antes da nossa expedição e eles retornaram com audios no WhatsApp condenando praticamente tudo o que eu havia planejado.
Como tudo lá é muito longe, o ideal era montar as atrações por região e, obviamente, saber aproximadamente a duração de cada uma delas. Tava uma bagunça. Eles deram muita risada mas também deram conselhos valiosíssimos para que a gente conseguisse fazer tudo (ou praticamente tudo) o que havíamos pensado. Se não fossem por eles, teria sido uma grande dor de cabeça e muitas atrações não teriam sido visitadas.
Ah sim, já ia esquecendo. O insight aqui é que se você não ouve o usuário ou alguém que já passou pela experiência, o risco do planejamento baseado somente na sua cabeça é de falhar miseravelmente.
Mas voltando aqui à expedição.
A ansiedade continuava e ainda pior depois das dicas que o pessoal nos passou. Dentre as coisas que eles me falaram estavam frases como: “é cansativo mas você aguenta de boa”, “a subida é punk…mas nada que você não consiga fazer parando de vez em quando para respirar”, “eu cansei mas é tranquilo”.
Como assim? Cansou mas é tranquilo? Você tem 30 anos e tá botando os bofes pra fora e acha que “eu aguento de boa”? (Lé ele!).
Pronto…vou morrer.
Na frente de minha esposa, miseravelmente, porque vou escalar um Everest para chegar num diabo de morro pra tirar foto! Mas que m&rd4 eu estou fazendo?
Primeira atração foi o Poço Encantado.
Depois de dirigir por quase 2 horas, chegamos no local da gruta. Preparação com equipamentos, guia explicando as coisas, lanterninha no capacete…e uma trilha com uma descida a perder de vista. Mas daí eu pensei: “Pra baixo todo santo ajuda. O inferno vai ser subir”. E foi mesmo.
Mas, entre uma descida que doeu minhas pernas (sim, verdade) e uma subida que me matou 4 vezes (sim, verdade) havia o Poço Encantado.
Eu não vou descrever não. Eu vou colocar essa foto aqui:
Mas não vou mentir: teria relaxado e contemplado muito mais se eu não estivesse pensando na subida da gruta. Mas valeu a pena cada morte para visitar essa coisa maravilhosa que a natureza proporcionou.
No mesmo dia fomos no Poço Azul e pudemos nadar em um lugar sensacional. Que lugar fantástico! Que água fria dos inferno! Mas valeu a pena cada falta de ar da descida e da subida.
Bom, com o passar dos dias e das atrações, comecei a perceber que muito do que eu pensava era puro exagero. Era pura ansiedade. E comecei a curtir muito mais as atrações. Comecei a me preocupar em estar ali, nas trilhas, nas cachoeiras, nos momentos do caminho onde as paisagens se revelavam, nas flores exóticas, nas rochas esculpidas pelo tempo, nas estalactites, estalagmites, colunas, areias coloridas, águas gélidas mas de um azul indescritível.
A cada atração, a resistência à mudança foi caindo por terra. A cada aventura, a antecipação com o medo do esforço foi sendo trocada pela excitação de poder estar presente em lugares mágicos. Em contemplar, o que pra mim, é o verdadeiro significado de Deus.
Essa expedição gerou uma mudança em mim.
Não estou falando somente no quesito atividade física mas também no entendimento que a quietude da mente proporciona uma vida muito mais prazerosa.
Daí que olhando para toda a experiência e tentando fazer a analogia com o meu dia a dia, vejo que todas as teorias e conhecimentos que lemos em nossos livros corporativos, todos os conselhos que damos e ouvimos em nossas carreiras, só são verdadeiros quando a gente vivencia isso de verdade fora do contexto de trabalho e aprende de verdade com a natureza.
E não adianta antecipar sentimentos, expectativas baseadas em achismos. Apesar das subidas e descidas, apesar dos esforços, há sempre a recompensa de algo lindo para se contemplar. Há sempre algo para aprender nas trilhas que escolhemos.
Calce sua bota, pegue sua garrafa de água, faça uma mochila com somente o necessário e vá leve em direção ao caminho que você planejou. Ouvir pessoas com experiência é uma bênção. Falar menos é sabedoria.
E siga em frente. Sempre.
(Muito obrigado Carina e Dudu do canal Então Vamo Nessa! Vocês foram a nossa salvação!)
Você aplicou para diversas vagas, mandou seu currículo, organizou um portfolio, fez a aplicação pelo LinkedIn ou outra plataforma qualquer de busca de empregos e já faz mais de 1 semana que não tem uma resposta sequer. Só recebeu aquele email avisando que “sua aplicação foi recebida com sucesso e em breve entraremos em contato”.
Daí que você questiona: defina breve, por favor?
É fato que, para quem está buscando uma vaga como júnior, migrando de área ou até mesmo querendo evoluir na carreira que já tem, a experiência de busca de uma oportunidade às vezes é frustrante. Aliás, para a maioria das pessoas, é bastante frustrante mesmo.
Ah, e fora a falta de respostas ainda tem as negativas. E essas, dependendo do nível de expectativa (ou até mesmo da necessidade de cada um) podem gerar uma frustração e tristeza ainda maior.
Não é fácil, eu bem sei.
Mas e aí?
Vai ficar triste, tristinho? Mais sem graça que a top model magrela na passarela?
Talvez sejam essas negativas e silêncios que sirvam de material para buscas e aplicações mais efetivas. Talvez seja exatamente isso que você esteja precisando.
Outro dia, em uma mentoria que fiz com um candidato a UX Designer Júnior lá da terra da rainha highlander, essa questão veio à tona. O jovem britânico se queixava que ele aplicava para uma infinidade de vagas mas que não tinha respostas das empresas. Eventualmente, quando chegava algum feedback, era uma singela e educada negativa. Ele tinha trabalhos bacanas (feitos em cursos e bootcamps), um currículo bonitinho, todo arrumado visualmente. Me disse que chegava até as fases de entrevista mas que depois a coisa “degringolava” (sempre quis usar essa palavra num artigo de forma que fosse coerente. Finalmente consegui!).
Outra mentorada, desta vez lá de Calcutá (sério…esse pessoal me encontra escondido aqui em Salvador!), relatou os mesmos problemas há alguns dias. Vários trabalhos, currículo, páh… Mas na hora de aplicar para as vagas…nada! “O que eu faço, Mr. Lau?”, perguntou-me com o difícil e nem sempre compreensível sotaque indiano na hora de falar inglês. Trouxe esses dois exemplos importados para mostrar que esse tipo de dificuldade não acontece apenas na terra brasilis. É no mundo todo, my brother!
-Sim, meu nobre, já entendi e acontece comigo também. Você vai me iluminar com o reluzente brilho de sua vasta escassez capilar ou o quê?
Nem vou. Pelo menos por agora. Mas o que posso dizer é que eu notei um padrão em TODOS os que chegavam para mim com essa inquietação espiritual. E esse padrão também me assombrava há muitos anos.
Já ouviu essa expressão: “casa de ferreiro, espeto de pau”?
Analisando os materiais eu notei que a experiência para quem era abordado com a solicitação de emprego era ruim. Seja um recrutador ou um Designer mais sênior que tinha que analisar o que a pessoa tinha feito até então.
Inconsistência, desorganização, falta de objetividade, objetividade demais, coisas sem sentido, dentre outras muitas coisas.
O Designer vive falando em metodologias, pesquisa com usuários, prototipação, “disáine finquin”, ux writing, persona, produto, liderança, sentar na mesa das decisões, etc. Mas não analisa o material de “venda” dele mesmo.
Eu poderia parar o artigo por aqui, porque pra bom entendedor…
Mas eu vou dar mais alguns passos.
Enquanto a gente (sim, eu sou designer também) não pensar em nossos portfolios, currículos, movimentos, como um PRODUTO, continuaremos tendo negativas e falta de respostas. Você não é um produto mas o que você entrega para vender você, é!
É o bom e velho “saber embalar”. E não estou falando aqui de mentir ou ocultar coisas tenebrosas sobre a sua trajetória. Estou falando em saber encantar com o que você tem de melhor, de uma forma estruturada, lógica e que ajude a pessoa que está analisando sua experiência (ou falta dela) e te entrevistando, saber se você é realmente adequado para aquela vaga ou não.
Obviamente, o fato de você ter um material e PRINCIPALMENTE UMA ESTRATÉGIA de busca e aplicações para vagas não é certeza de contratação na primeira tentativa. Mas aumentam e muito as suas chances de ser notado em um oceano de candidatos que não tem.
Se você está nesse movimento de busca ou evolução de sua carreira, avalie o material que você tem atualmente.
É consistente? Você explica os “por quês” de tudo o que você fez? Dá pra perceber como é o seu modo de pensar na resolução de problemas?
Peça ajuda a algum amigo que está um pouco mais na frente na carreira.
Peça feedback em todas as vezes que você recebeu uma negativa. Isso ajuda demais a saber que pontos você precisa melhorar.
Seja humilde quando pedir seus feedbacks. Eu sei que a empresa que te negou é cega em não perceber a sua magnitude de soft e hard skills…mas faça de conta que você é uma pessoa normal e que está procurando melhorar. E que eles podem te ajudar nisso.
Estruture/documente toda aplicação que você fizer. Saiba quem é o recrutador. Tente tirar suas dúvidas sobre a vaga. Sempre tem. Sempre tem!
A empresa quer saber quem é você. Dê o troco! Quem é essa empresa? Serve pra mim?
Pra saber se serve ou não é importante saber quais os seus objetivos de carreira. Você sabe qual é o seu?
Procure um mentor (não, não é jabá…) que vai te guiar no aprendizado e encurtar bastante os caminhos cheios de armadilhas. Ele já caiu em várias e sabe onde pisa. Deveria, pelo menos.
Enfim, este pequeno artigo é apenas o começo de uma conversa. Há muito o que pode ser dito e, sim, se você estiver na inquietude querendo saber como fazer isso tudo, fala comigo (há…é jabá mesmo).
Eu não te prometo sucesso. Isso depende de você.
Mas te mostro o caminho que eu percorri. Onde errei, onde acertei e onde continuo aprendendo.
Não esqueça: Siga em frente. Sempre. E até o próximo acampamento.