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Expectativas e Sincronicidade

(Sugestão de trilha para ler o artigo: Synchronicity I – The Police)

Outro dia uma enquete aqui no LinkedIn perguntava qual era a habilidade mais importante para um UX Designer. Eu não tive dúvidas: a habilidade de ouvir cuidadosamente.

É o que eu procuro fazer (e faço) nas minhas pesquisas, nas observações, nas investigações profundas para mapear contextos e definir bem o problema a ser atacado. Vale ressaltar que esse “ouvir” vai além do escutar propriamente dito. Há aí o componente da percepção e da suposição que devem ser levados em consideração para serem provados verdadeiros ou falsos.

Hoje eu me esforcei para aplicar essa habilidade com meu filho, sem a interferência da condição inexorável da paternidade. E vou confessar: é muito, muito difícil. Mas eu consegui.

Essa dificuldade vem da expectativa criada sobre uma camada de acontecimentos idealizada pelos pais em relação aos seus filhos. Tá, generalizei…mas duvido que, de alguma forma, os pais não tenham esse “roadmap” da vida da prole em suas ingênuas cabecinhas.

–Até agora não entendi, Lau. O que você está querendo dizer com tudo isso?

Fiz uma pergunta para meu filho hoje para saber se ele tinha clareza sobre as decisões e erros que havia cometido nos últimos anos de sua vida. E, como pai-ux-designer preparei meu caderninho e meus ouvidos para analisar a resposta.

Não vou, obviamente, entrar nos detalhes da conversa mas o que aprendi (mais uma vez) com a resposta foi que nem tudo o que eu achava que era erro, era erro. Nem tudo o que eu achava que era obscuro, era obscuro. Nem tudo o que eu achava que era uma decisão, era uma decisão.

Ouvir o ponto de vista e perceber todas as nuances em sua voz nas respostas me fizeram refletir sobre as minhas expectativas e crenças em relação à vida dele. E aos poucos EU tive a clareza de que EU buscava atitudes nele como um viés de confirmação.

Acostumado em ser um mentor e direcionar um caminho que, na minha percepção, leva ao sucesso, não enxergava o ponto de vista e aposta dele num caminho que, nesse momento, faz sentido para ele.

É óbvio que, sendo pai, eu conto as histórias e experiências vividas por mim e é exatamente aí que chegam as expectativas: na tentativa de direcionar um caminho melhor, mais fácil, menos turbulento.

Mas é na turbulência, na dificuldade, no aprendizado das escolhas certas e erradas que a gente cresce. Ninguém evolui de verdade na zona de conforto. E soltar o filho para que ele saia dessa zona é difícil. Mas necessário.

Talvez boa parte dos leitores desse breve artigo não tenham ainda noção do que realmente estou falando. É preciso ter um filho para saber.

Tudo acontece no seu tempo.

O certo e o errado. E ambos servem para aprender.

E dessa vez quem aprendeu…adivinhe?!

Pois é, Papai UX.

E agora sugiro que você termine o artigo ouvindo Synchronicity II, do The Police, claro.

Na expectativa de que meu filho não tenha que olhar para a vida dele como ouvimos na música. (Pronto…lá vem a expectativa novamente)

Mas se tudo fosse flores na vida do Sting, não haveria Synchronicity. E talvez, nem o The Police.

Filho, siga em frente. Sempre!

(update de sincronicidade: o álbum Synchronicity, do The Police, foi lançado no dia 17 de junho, data de aniversário do meu filho. Eu só percebi isso depois de ter publicado o artigo)

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