
(Sugestão de trilha para ler o artigo: Chopin: Nocturne No.8 in D-Flat major, Op.27 No.2)
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Estava ouvindo um podcast que eu gosto muito, o Auto-consciente, da Regina Giannetti e me deparei com um trecho lindo de um livro que ela reproduziu no episódio 141 (O que estamos fazendo da nossa vida?).
O livro é Os Segredos da Vida, de Elizabeth Kubler-Ross e David Kessler.
Eu ainda não achei o livro para compra mas certamente está em minha lista de próximas leituras. Vou deixar aqui a transcrição do trecho do capítulo que leva o nome dessa postagem, que a Regina leu em seu podcast e que, acredito, serve não só para mim mas para todas as pessoas.
“Stephanie, uma mulher de 40 e poucos anos, contou a seguinte história em uma palestra. Certa tarde de sexta-feira, a vários anos, eu enfrentava o trânsito pesado na autoestrada entre Los Angeles e Palm Springs, para onde eu me dirigia.
Estava ansiosa para chegar ao deserto e passar um fim de semana tranquilo com alguns amigos. De repente, os carros que estavam à minha frente pararam. Consegui frear quase colada no carro da frente. Mas ao olhar pelo retrovisor, vi que o carro atrás de mim avançava na minha direção a uma tremenda velocidade.
Percebi que o meu carro ia ser violentamente atingido. Tomei consciência do grande perigo e do risco de morte que ocorria. Tudo aconteceu muito rapidamente. Olhei para as minhas mãos que apertavam o volante e ao ver como estavam contraídas, me dei conta de que esse era o meu estado natural. Tenso. Contraído. era assim que eu vivia.
Numa fração de segundo, concluí que não desejava viver daquela maneira, nem morrer daquele jeito. Fechei os olhos, respirei fundo e deixei cair as mãos ao lado do corpo. Por incrível que pareça, eu relaxei, entreguei minha vida e a morte. A seguir, sofri um tremendo impacto. Quando o movimento e o barulho pararam, abri os olhos.
Eu estava bem. O carro à minha frente estava destruído, o carro atrás de mim destroçado. O meu carro parecia uma sanfona. Mais tarde me disseram que eu tive sorte por ter relaxado, pois a tensão muscular aumenta a probabilidade de uma lesão grave. Mais tarde, no caminho para a casa dos meus amigos, senti que eu recebia um grande presente.
O presente foi muito maior do que ter sobrevivido sem ferimentos. Foi descobrir a forma como eu estiver vivendo a vida e receber a oportunidade de mudar. Eu tinha segurado a vida com a mão tensa e fechada, mas agora compreendia que podia sustentá-la com a mão aberta, como se ela fosse uma pena pousada na minha palma.
Entendi que, se era capaz de relaxar o suficiente para perder o medo diante da morte, agora seria capaz de verdadeiramente aproveitar a vida. Naquele momento, me senti mais ligada a mim mesma do que jamais estive antes.
Como muitos outros no limiar da morte, Stephanie aprendeu uma lição, não a respeito da morte, mas sobre a vida e o viver.
Todos nós, bem no fundo, conhecemos o nosso potencial. Sabemos quem podemos vir a ser e somos capazes de sentir quando estamos nos tornando essa pessoa. O inverso? também é verdadeiro.
Sabemos quando há alguma coisa errada e não estamos nos desenvolvendo no sentido da pessoa que fomos destinados a ser. Conscientemente ou não, estamos todos em busca de respostas, tentando aprender as lições da vida. Sofremos com o medo e a culpa. Procuramos significado para a vida, o amor e o poder. Tentamos entender a perda e o tempo. Investimos para descobrir quem somos e como podemos ser verdadeiramente felizes. Às vezes procuramos essas coisas nas pessoas que amamos, na religião e em Deus.
Mas com excessiva frequência, nós as buscamos no dinheiro, no status, no emprego perfeito. E descobrimos mais tarde que tudo isso não responde ao significado que esperávamos encontrar. Quando seguimos essas trilhas falsas, Como se fosse aquilo que buscamos mais essencialmente, acabamos, de forma inevitável, nos sentindo vazios, acreditando que a vida encerra muito pouco significado, até mesmo nenhum, e o amor e a felicidade não passam de ilusões.
Algumas pessoas encontram o significado da vida através do estudo, da iluminação ou da criatividade. Outras o descobrem nos momentos de crises dolorosas. ou quando são obrigadas a contemplar a morte de frente, seja por uma doença incurável, seja porque perderam os seres amados. Muitas pessoas que se encontraram no limite entre a vida e a morte e o ultrapassaram, descobriram depois que também estavam no limiar de uma nova vida.
Olhando diretamente no olho do monstro, frente a frente com a morte, se entregaram a ela completa e plenamente. Nesse momento, sua vida foi para sempre transformada, pois aprenderam uma lição fundamental. Essas pessoas foram obrigadas a decidir, nas trevas do desespero, o que queriam fazer com o resto de sua vida.
Essas lições certamente não são agradáveis, mas todos os que passam pela experiência descobrem que elas enriquecem suas vidas no que elas têm de essencial. Por que então esperar o final da vida para aprender as lições que podem ser assimiladas agora? E quais são essas lições? Quase todos nós enfrentamos os mesmos desafios.
A lição do medo, a lição da culpa, a da raiva, a lição do perdão, a da entrega, a do tempo, a lição da paciência, do amor, a dos relacionamentos, a lição do divertimento, a da perda, a do poder, a lição da autenticidade e a da felicidade.
Aprender as lições é como alcançar a maturidade. Não ficamos, de repente, mais felizes, ricos ou poderosos, mas passamos a entender melhor o mundo que nos cerca e nos sentimos em paz com nós mesmos. Aprender as lições da vida não significa tornar a vida perfeita, e sim ver a vida tal como ela é. Fomos colocados na Terra para aprender nossas lições. Ninguém pode nos dizer quais são. pois descobri-las faz parte da jornada de cada um de nós.
Essas jornadas podem nos trazer muitas ou poucas experiências em que as lições serão aprendidas, mas nunca além do que podemos suportar. Ao se defrontarem com uma perda, as pessoas com quem trabalhamos compreenderam que tudo que importa é o amor. O amor é, na verdade, a única coisa que podemos possuir. conservar e levar conosco.
Quando as circunstâncias são as piores possíveis, encontramos o que há de melhor em nós. Quando descobrimos o verdadeiro significado das lições que as experiências nos trazem, encontramos uma vida feliz e repleta de significado. Não uma vida perfeita, mas uma vida autêntica que pode ser profundamente vivida.”