por

DesreSPeito

(Sugestão de trilha para ler o artigo: Nenhuma. Apenas o silêncio)

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Despachei minha mala no aeroporto carregada de expectativas e a sensação refrescante dos inúmeros banhos de cultura e beleza que sempre encontrei quando viajava para a maior cidade da América Latina.

Era feriado e a primeira coisa que fiz com a família foi caminhar para almoçar na Paulista, já que o hotel era próximo.

Diante dos malabares, bancas de bugigangas e bandinhas legais desconhecidas, notei que estávamos dentro de uma daquelas lindas bolhas de sabão que encantam as crianças.

Nossa bolha era um escudo colorido e distorcido que flutuava sobre a realidade monocromática cinza da cidade. Almoçamos em lugares lindos, andamos em centros culturais, visitamos museus, compramos o luxo e o lixo, curtimos o festival de música por dois dias.

Dentro de nossa bolha de sabão, sobravam sorrisos.

Mas como a bolha de sabão é transparente e enquanto flutuava pela cidade com motoristas de aplicativos, a gente via a fétida realidade das calçadas do centro da cidade. O contraponto da leveza e do colorido.

São Paulo me deixou marcas dessa vez. Na minha retina.

Foi deprimente enxergar de dentro da bolha toda a indiferença, pobreza, solidão, tristeza e desrespeito que a opulência de uma cidade gigantesca gera em centenas, milhares de pessoas que habitam as ruas, que fazem do chão sujo e pisado o seu colchão.

A população do infortúnio cresce a cada ida minha para lá e o mal-cheiro social fica cada vez mais evidente.

O conforto da bolha me entrega experiências fantásticas e eu sou grato por isso.

Mas ela não tapa a visão da realidade do outro lado da fina e transparente parede de água e sabão. Dois simples elementos que faltam para todos os que vi pelo caminho e que não limpam nossa consciência a cada banho quente que tomamos.

Ah, quem dera se um pouco das belezas que a cidade oferece respingasse na vida dessas ainda pessoas!

A mala voltou mais cheia. E não foi de compras e roupas sujas.

“A cidade não para, a cidade só cresce. O de cima sobe e o de baixo desce”. (Chico Science)

#saopaulo #sp

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