
(Sugestão de trilha para ler o artigo: Waltz in A Minor, B.150, Op. posth)
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Eu tava ali, no meio daquela festa bonita de casamento, onde todos estavam animados, dançando e comemorando mais uma união nesse mundo. A música não estava tão alta e isso me agradava muito pois não gosto de música muito alta em festas. Só se for Metal! E mesmo assim, tem um limite de decibéis. Sabe como é a idade, né?
O clima agradável e a música do biquini de bolinha amarelinho me transportou a alguns anos em minha adolescência, quando ainda morava com meus pais e minha avó.
Lembro bem dela chegando pelo corredor, com seus passinhos tímidos e cautelosos em direção à cozinha, sabendo que em instantes o neto que ela mais gostava (isso era segredo) iria levantar repentinamente e iria pegá-la pelos braços.
Antes mesmo de levantar ela já olhava desconfiada. Às vezes começava a dizer “não, não”, com um sorriso disfarçado no rosto só de eu olhar pra ela. Não tinha jeito.
Levantava correndo, tomava a velha nos braços e começava a dançar. Era valsa, tango, lambada…o que tocasse. Ela gritava que estava tonta e ria…ria e dançava. Eu desmanchava seu cabelinho branco de algodão-doce todo. E sua mãozinha tão enrugada e lentidão de movimentos tentava ajeitar sem sucesso.
Ouvia minha mãe gritar do quato: “Sua vó vai ficar tonta, para Laert, ela vai cair, não faça isso!”. Eu não dava a mínima. E minha vó adorava. Dançava alguns instantes, rodopiando pela sala, se batendo nos móveis. Girando, girando.
Eu cantava e ela gritava. Pedia socorro para a filha…rindo. Mas não adiantava. Ela adorava dançar.
Hoje eu lembrei de minha velhinha. Lembrei e quase chorei na festa, porque nunca mais eu dancei assim. Nunca mais rodopiei na sala. Mas sei que haverá um momento em que eu pedirei para uma certa menina parar. Eu, inclusive, espero que ela me tome nos braços e rodopie, até eu ficar tonto, com sorriso no rosto, pedindo para ela parar.
E, de todas as lembranças, o que eu sinto mais falta era de seu sorriso contido e sua vontade escondida de dançar comigo.
Não pense que você não escapou, minha véia!
Um dia ainda vou te pegar, onde quer que você esteja pra gente rodopiar…só que agora, nas nuvens. Um beijo muito saudoso.